Agente explica poder e ação de facções instaladas nos presídios de MT

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Mesmo monitoradas em todos os presídios de Mato Grosso, facções criminosas têm orquestrado e ordenado boa parte de crimes no estado.  Ao todo, três organizações do crime atuam com seus “soldados” nos mandos de delitos para reforçar financeiramente os grupos e se manterem cada vez mais fortes no crime organizado dentro e fora das penitenciárias. Primeiro Comando da Capital (PCC), Comando Vermelho (CV) e o Novo Cangaço são as facções que aterrorizam a população com crimes de assaltos, roubos a residência e veículo, tráfico de drogas e tráfico de armas em Mato Grosso.

O presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários de Mato Grosso (Sindispen-MT), João Batista Pereira, afirma que o Comando Vermelho é a facção mais organizada de todos os grupos criminosos. Composta por 2.500 integrantes, a facção tem integrantes dentro e fora das penitenciárias. Fato que é um complicador na identificação dos bandidos por parte das forças de segurança.

 

De acordo com Batista, o Comando Vermelho foi instalado no estado após uma de suas principais lideranças de Mato Grosso, Sandro da Silva Rabelo, conhecido como “Sandro Louco”, ter tido contato com os líderes da facção instalada em São Paulo. “Após ser transferido para o Presídio Federal de São Paulo, Sandro Louco teve contato com os principais líderes do Comando Vermelho de lá. Quando ele voltou pra Mato Grosso, começou a batizar alguns presidiários daqui como integrantes do Comando Vermelho. Hoje a facção mais forte que tem em Mato Grosso é o Comando Vermelho. É difícil existir um presídio que não tenha um membro da facção em todo o estado. Boa parte dos crimes cometidos aqui fora são a mando dos líderes do PCC e do Comando Vermelho”, disse o sindicalista.

No mês passado, a região metropolitana passou por momentos de horror. Em uma ação denominada “Salve Geral”, bandidos destruíram quatro ônibus, viaturas da Polícia Militar, além de veículos particulares em Cuiabá e nas cidades de Primavera do Leste, Barra do Bugres, Sinop e Barra do Garças. Todos os crimes a mandos de integrantes do Comando Vermelho. Os mandantes dos ataques Reginaldo Aparecido de Brito, João Luiz Baranosk, Reginaldo Silva Rios e Carlos Alberto Vieira Teixeira foram identificados e autuados. Eles foram transferidos da Penitenciária Central do Estado (PCE), para a Penitenciária da Mata Grande, em Rondonópolis (210 km de Cuiabá). Eles estão aguardando serem transferidos para um presídio federal.

Batista afirma que os líderes da facção, cobram uma mensalidade para que novos sejam integrantes sejam inseridos no grupo. “O Comando Vermelho age de forma organizada. Os membros da quadrilha têm que pagar uma mensalidade aos seus lideres para poderem continuar na facção. Aqui fora, alguns de seus soldados têm que executar algumas ordens que vem da liderança. Caso eles não consigam realizar as missões são mortos. Eles têm uma meta mensal a ser cumprida para poder financiar apoio jurídico aos bandidos que estão condenados. Com esse dinheiro, eles orquestram vários tipos de crimes aqui fora”, explica o presidente que não soube informar qual seria o valor da mensalidade.

Em 2014, a Polícia Civil juntamente com a Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), cumpriu 204 ordens judiciais contra integrantes do Comando Vermelho. “Nessa época foram identificadas que já existia o Comando Vermelho em Mato Grosso e que era composto por 450 membros. Na oportunidade, o sistema de inteligência já apontava que da forma como eles estavam agindo, mais três anos, esse número chegaria próximo a 3 mil integrantes que é o que eles tem hoje aproximadamente”, disse Batista.

 

O presidente do Sindispen afirma que o PCC não está tão forte no estado. “Dizem que hoje existe um acordo para não cadastrar mais membros nessa organização criminosa. Forte hoje mesmo é o Comando Vermelho. Alguns membros do PCC estão trabalhando aliados”, disse o sindicalista que não soube informar quantos membros existem no PCC.

Forma de atuação

“Os modus-operandi tanto do PCC quanto do Comando Vermelho são similares. São duas facções que se digladiam em nível nacional. É comum vermos líder de um grupo matando outro e tentando entrar na área de atuação do outro grupo. Para que essas facçõess se sustentem eles cometem assaltos, traficam drogas e armas e todo o dinheiro vai para os líderes dos grupos administrarem. Eles atuam como se fossem uma empresa”, disse Batista.

Lideranças

De acordo com João Batista, é impossível saber quem são os novos líderes das facções, ou quem assumiu as lideranças, já que os “cabeças” das organizações foram transferidos da PCE para outras unidades de segurança máxima, espalhadas pelo país.

Em 2014, a Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), da Polícia Civil, desarticulou o CV dentro da Penitenciária Central, durante a deflagração da Operação Grená. O detento Sandro da Silva Rabelo, conhecido como “Sandro Louco”, foi apontado como o líder do Comando Vermelho em Mato Grosso e membro do “conselho final”, que exigia o cumprimento rigoroso do estatuto da facção.

Sandro cumpre 161 anos, 9 meses e 24 dias regime fechado, em uma cadeia federal. Ele foi condenado por diversos crimes, entre eles: latrocínios, sequestro e roubos. Ele é temido dentro e fora dos presídios. Um ano antes, em 2013, outra operação do GCCO desarticulou parte do PCC e resultou no indiciamento de seu líder, João Batista Vieira dos Santos. O bandido, além de ser um dos líderes da facção no Estado, financiava a organização por meio do tráfico de drogas.

Fiscalização nos Presídios

 

João Batista Pereira ainda ressaltou que a atuação das facções só acontece devido à falta de investimento em tecnologias que inibem, por exemplo, o sinal telefônico dentro dos presídios. “Não é de hoje que a gente aponta a deficiência de estrutura do sistema penitenciário. Até as revistas pessoais o governo tirou por meio de uma portaria. Sem essas revistas é muito difícil controlar a entrada de drogas e celulares dentro dos presídios. Os bandidos contratam “mula” (mulheres contratadas para levarem drogas aos detentos) e nós temos que descobrir só psicológico, o que é muito difícil. A revista pessoal tem que ser liberada novamente. Só assim, a entrada de materiais ilícitos será diminuída”, reivindicou o sindicalista.

 

Fonte: Repórter MT