O governador (Mauro Mendes) tem que tomar cuidado com o que fala”, afirma a presidente do Sindicato dos Servidores Penitenciários de Mato Grosso (Sindispen), Jacira Maria da Costa, sobre a comparação feita da Penitenciária Central do Estado (PCE) de ser “um quartel general do crime organizado”.
Jacira teme que a fala de Mauro encoraje líderes de facções criminosas.
“Nós podemos correr o risco de o crime organizado começar a mandar lá dentro porque o governador está reforçando que isso aconteça”, comenta.
O comentário, que segundo os agentes penitenciários é um exagero, foi feito em uma feira do agronegócio, na última sexta (23), em Tangará da Serra (a 241 km de Cuiabá). Na ocasião, ele comentava os resultados da Operação Elisson Douglas que visa combater o crime organizado dentro da PCE.
“Aquilo era um quartel general do crime organizado”, disse na época. Mas Jacira avaliou que o governador fez um “comentário desastroso” e que pode prejudicar o trabalho das penitenciárias ao “realçar o crime organizado”.
“Esse comentário só reforça o crime organizado. Ao invés de fazer um comentário produtivo que demonstre que o Estado está firme e vai continuar lá dentro. A Segurança Pública não pode se dobrar ao comando do crime organizado”. A presidente sindical vê como um dos riscos para este comentário é que membros de facções criminosas se sintam mais encorajadas para cometer crimes em cidades de Mato Grosso ou até mesmo de “salves” – ordem de líderes para cometer série de violações, como assaltos, furtos, queimas de ônibus e entre outros. “São as falas das autoridades que, às vezes, fomentam com que pessoas mal instruídas ou má-fé façam coisas ilícitas ou criminais. Uma fala tem muito poder”, comenta.
Jacira aponta ainda outro fato que pode contribuir para perder a guerra contra o crime organizado. A reforma da estrutura da pastas do Governo com a entrada de Mauro causou um retrocesso nos avanços conquistados pelo sistema penitenciário, segundo a sindicalista.
Logo na primeira semana, a área, que tinha uma secretária própria, foi colocada na de Segurança Pública – atual Sesp. “E, da forma como fomos inseridos, nós fomos colocados no limbo. Fomos colocados na forma de retrocesso, como éramos no passado, quando era Sejusp. Nós lutamos para sair de lá por que não tínhamos autonomia e independência financeira para ter políticas publicas voltadas a reintegração do reeducando a sociedade”, acrescenta.
Além disso, Jacira critica que, além de dizer que o crime organizado manda dentro da unidade, deu a entender que os servidores penitenciários são ausentes e corruptos. Ela cita o déficit de funcionários para trabalhar na unidade e a desproporção de apenas 270 agentes para 2,5 mil presos. “Você acha que dá para ser feito o trabalho de educação e saúde com essa desproporção de servidores para reclusos. Há lógica nisso? Ao invés de engrandecer o trabalho, acaba prejudicando de forma desproporcional”, disse indignada.
Resultados da Operação na PCE e críticas a achados
Para Jaciara, um dos efeitos pós-operação na PCE foi a queda no número de crimes em Cuiabá. Isto por que, segundo ela, os criminosos que ainda estão em liberdade “ficaram sem o comando de seus líderes maiores que estão na penitenciária central”. A falta de contato se deve a falta de energia elétrica nas celas. Sem eletricidade para carregar os celulares, os presos estão incomunicáveis com seus subordinados do lado de fora. Além disso, tomadas estão sendo retiradas, após os próprios reenducandos reformarem as celas.
Mas a presidente sindical critica alguns resultados da mesma operação e discorda dos achados apreendidos pela ação na PCE, como drogas, celulares e até aparelhos eletrodomésticos. “Infelizmente, o governador mais uma vez demonstra totalmente desconhecimento do sistema penitenciário de Mato Grosso”, sentencia.
Em coletivas de imprensa e a jornalistas, Mauro vem comentando que foi que retirado, além dos tradicionais celulares e drogas das celas, um whisky da marca Jhonny Walker. “O que não é verídico“, disse. Também atacou a versão de que foi retirada uma churrasqueira da unidade. Jacira aponta que, por conta da superlotação, isso não se mostra verdadeiro. “Não comporta tudo isso”, afirma.
“É um absurdo até que o governador está falando. E, do jeito que se fala que tem até churrasqueira no meio, então lá virou uma farra. Uma festa que vira lá dentro, com tudo que é permitido, e as facções mandando e os servidores como reféns lá dentro, como se os papéis tivessem sido invertidos”, acrescenta.
Apesar disso, Jaciara avalia que a operação foi necessária devida a superlotação da PCE e diminuir os excessos. Com capacidade para 891 presos, a penitenciária tem aproximadamente 2,5 mil presos. Segundo a presidente, uma cela construída para 10 pessoas tem 46 ou 48 reenducandos. “Se alguns conseguem se esticar ou deitar, como qualquer ser humano comum, é uma vitória. (Eles) ficam sentados e espremidos para poder dormir. E, se alguém sentir qualquer necessidade fisiológica na madrugada, não consegue chegar ao banheiro. Não é por que a pessoa cometeu um ato ilícito é que você vai se compactuar com essa forma degradante, vexatória e desumana na qual eles estão ali”, disse.
A operação
Deflagrada em 12 de julho, a Operação Agente Elisson Douglas tem o objetivo para combater o crime organizado dentro da Penintenciária Central do Estado. O Sistema Penintenciário e agentes da segurança pública têm recolhido celulares, drogas e outros itens.
Executam ações que visam reogarnizar a PCE e retirar as regalias dos presos em que os próprios trabalham para reformar a unidade. O nome da operação faz referência a morte agente penitenciário Elison Douglas da Silva, 37 anos, que foi alvejado por tiros na frente de casa, no final de junho.
A Polícia Civil conduz o caso como um crime de execução, já que, em carta, um preso comemora a morte e cita que ele teria agredido um detento no Centro de Detenção Provisória, de Lucas de Rio Verde, onde trabalhava.