Não é novidade para ninguém que mesmo atrás das grades, o crime organizado continua atuando. Assaltos, mortes e muitos outros crimes são comandados das unidades prisionais de Mato Grosso, por meio de celulares. Na última terça-feira, por exemplo, uma quadrilha acusada de aplicar golpes em parentes de pacientes internados em Rondonópolis foi presa. Um dos integrantes da quadrilha comandava os golpes do próprio presídio.
Levantamento da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) aponta que somente neste ano foram apreendidos mil celulares nas unidades prisionais de Mato Grosso. A maioria das apreensões ocorreram nas unidades de Cuiabá e Várzea Grande, 924 no total.
Em todo o ano passado foram 2.530 aparelhos celulares apreendidos nas unidades prisionais. A Penitenciária Central do Estado é a que concentra o maior número de apreensões, seguida da Penitenciária da Mata Grande, em Rondonópolis. Uma promessa de anos e que coibiria a atuação do crime organizado de dentro dos presídios, os bloqueadores de celulares ainda não tem prazo de serem implantados.
“A Secretaria de Justiça está analisando qual a tecnologia mais adequada que possa auxiliar no monitoramento de pessoas para coibir a entrada de aparelhos e também o bloqueio. Ressaltamos que hoje no País não há uma tecnologia 100% eficaz de bloqueio de celulares em unidades prisionais, uma vez que as atualmente utilizadas causam interferências no perímetro além da unidade onde estão instaladas”, confirma a secretaria.
Em contrapartida a Sejudh frisa que está investindo neste ano recursos de R$ 5 milhões recebidos do Ministério da Justiça e Cidadania em mais equipamentos, como os escâneres corporais, para garantir ainda mais segurança na revista de visitantes e consequentemente, mais segurança à unidade prisional. Segundo a Sejudh os incrementos vão melhorar a segurança e a efetividade do sistema prisional de Mato Grosso. Além de diminuir as possibilidades de ações dos grupos criminosos e assegurar um ambiente de mais segurança dentro e fora das unidades.
TROTE – Ana Cristina da Silva foi uma das pessoas que caiu no golpe. Ela conta que estava em casa e um homem ligou identificando como um tio distante e que estava a caminho de Cuiabá, mas que o carro quebrou na estrada. “Eu nem desconfiava que se tratava de um trote, acabei caindo na conversa. Ele disse que o carro estava quebrado e que precisava de dinheiro para consertar. Tudo levava a crer que era um parente mesmo”, diz.
Ana conta que chegou a fazer uma recarga no celular do criminoso, mas que quando o filho chegou em casa, alertou a mãe sobre o golpe. “Sorte minha que fiz apenas a recarga e se eu depositasse o dinheiro para o tal conserto. Nunca pensei que ia cair num golpe deste, a gente pensa que acontece com os outros e que somos espertos ao ponto de não cair, mas a lábia deles é tão grande que é quase impossível não ser passado para trás”, diz.
O secretário-geral do Sindicato dos Servidores Penitenciários do Estado de Mato Grosso Ademir Mata diz que na apreensão de celulares, uma das grandes dificuldades dos agentes é a falta de materiais, a exemplo dos escâneres corporais que inibem entrada de celulares e entorpecentes.
“O bloqueador de celular é muito importante porque se tiver lá dentro não vai ter qualquer possibilidade do detento utilizar aparelho para cometer crime. Sabemos que a maioria dos crimes cometidos aqui fora a ordem é dos próprios presídios. Com escâner corporal e bloqueador vamos inibir em torno de 100% da entrada de materiais ilícitos por meio de “mulas”. Desde 31 de dezembro do ano passado o Depen depositou recursos para adquirir bloqueadores e escâneres e ainda não foram comprados”, confirma Ademir Mata.